quinta-feira, 29 de março de 2012
COLA NA PROVA DO PROF. ALIOMAR BALEEIRO
Cola na prova com o professor Aliomar Baleeiro (que mais tarde veio a ser Ministro do Supremo Tribunal Federal)
Quando ingressei na faculdade, logo no primeiro ano fiquei muito amigo de nosso colega Wilson Riograndino Guberman e essa amizade só foi se fortalecendo com o passar dos anos, ao ponto de ter sido meu padrinho de casamento. Isso no tempo em que o noivo tinha um casal de padrinhos e a noiva tinha outro casal. Não era como agora, em que nos casamentos existem mais padrinhos do que convidados.
Foi o meu melhor amigo durante toda a vida até que veio a falecer ainda muito jovem, deixando viúva e dois filhos. Como amigo, é claro, só posso enaltecer suas insuperáveis qualidades. Era amigo sincero, leal e franco, mas uma qualidade eu tenho que reconhecer que ela não tinha. Ele não era estudioso. Aliás, não ser estudioso é pouco. Ele tinha verdadeira ojeriza, a ponto de ter repugnância pelo estudo.
Por este motivo, foi reprovado duas vezes e se formou (aos trancos e barrancos) dois anos depois de nós. O incidente mais dramático e curioso aconteceu durante uma prova de Ciência das Finanças com o Professor Aliomar Baleeiro.
Ele me disse que outro colega tinha emprestado a ele um resumo da matéria e o Wilson resolveu cortar pedaços de papel de 10x10 cm e, depois de escrever em ambos os lados do papel com uma letra microscópica aquele resumo, cobria cada papel com fita durex. Assim ele escreveu um monte de papéis e levou para a prova. Por sorte, caíram umas questões que estavam na cola e o Wilson copiou o resumo na resposta.
Ele estava satisfeito, mas quando as notas foram divulgadas, a única nota que não saiu foi a dele e isso o deixou angustiado. Será que o professor tinha percebido a cola de alguma forma? Depois de algum tempo ele foi chamado para conversar com o professor e lá foi ele, tremendo que nem vara verde.
Quando voltou, ele estava pálido e ao mesmo tempo furioso. O caso é que o colega não tinha feito um resumo e sim copiado palavra por palavra o que constava do livro do professor. Quando foi corrigir a prova, Aliomar Baleeiro reconheceu o texto e comparou para constatar que era exatamente igual.
O Wilson queria bater no colega que lhe passou os ditos "resumos", mas tinha um problema mais sério para resolver antes. O professor disse que ele tinha colado e o Wilson negou, alegando que tinha estudado muito e, de alguma forma, as palavras ficaram gravadas em sua mente. Seria impossível ter colado, até porque o livro era formado por dois volumes enormes. Como poderia o Wilson ter entrado na prova com os dois volumes e copiado as questões sem que ninguém percebesse?
Então, o professor resolveu que ele iria fazer exatamente a mesma prova novamente e deveria provar que tinha tudo aquilo decorado. O Wilson ficou desesperado e queria até abandonar o curso para não ser expulso, mas eu acabei convencendo-o a fazer aquilo que eu julgava ser a única solução possível.
Ele sabia quais as perguntas que seriam feitas e deveria decorar o máximo possível do início de cada resposta. Depois, entregaria a prova alegando que já tinha se passado muito tempo e ele estava muito nervoso. Por isso, só se lembrava daquela parte, tendo esquecido o resto.
Muito a contragosto e profundamente mortificado, o Wilson pegou os dois volumes do livro e eu o ajudei a decorar o início de cada resposta. No dia da prova ele fez exatamente isso, mas o professor não pareceu muito satisfeito com a explicação.
Depois de algum tempo, saiu a nota do Wilson: ele tirou quatro e ficou satisfeitíssimo com o final da história.
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