Há muito tempo que não saía um exemplar deste prestigiado
jornal, desde que o editor-chefe se sentiu constrangido pelas ameaças daqueles
que, fiel e autenticamente retratados em suas peculiaridades, ameaçaram partir
para a agressão física se seus defeitos fossem novamente trazidos à luz. Agora
eu pergunto: Que culpa tenho eu se Fulano bebe demais, se Beltrano só diz
besteira ou se Sicrana é vadia? A culpa é minha? Estou inventando ou caluniando
alguém?
Mesmo com a consciência tranqüila, resolvi “dar um tempo”
nos relatos das peripécias dos descendentes da tradicional família que veio da
Itália dar sua contribuição à animação das festas brasileiras. Mas apenas por
motivo de saúde, sabe? Para evitar ter uma perna ou um braço quebrado, ou mesmo
a cara quebrada...
Mas a cobrança tem sido demais e o
editor-chefe, não resistindo à esmagadora pressão de seus frustrados e ávidos
leitores, lança ao público mais um exemplar do mais famoso, comentado e
disputado periódico da imprensa brasileira!
Neste natal, mais uma vez reuniu-se a família Fraga na
cidade de Juiz de Fora e todos os filhos de Garibaldi e Carmen estiveram presentes
com seus consortes (ou melhor, seus semsortes), filhos, netos e até sogra, já
que Dona Helena muito nos honrou com sua marcante e simpática presença. A
grande ausência, mais uma vez lamentada e sentida por todos foi a do Tio Rico
com a Lucíola, Lana e Ângelo. A gente entende, a precedência sempre é de passar
os dias festivos com a família da mulher e por isso enviamos nossos melhores
votos a eles, prometendo que, se Deus quiser, no Reveillon estaremos todos
invadindo e nos aboletando na casa deles sem a menor cerimônia. Isto é uma
promessa, e não uma ameaça!
Também o Adolphinho, pelo mesmo motivo,
não esteve presente. E a Renata e a Vovozinha fizeram falta.
Em outras efemérides tivemos características que marcaram a
ocasião, como a bebedeira no casamento da Renata e a pouca-vergonha em outra
ocasião. Desta vez, o que marcou a ocasião foram as doenças. Meu Deus do Céu,
parecia um hospital... Cada um que chegava estava com um treco estragado, um
treco doendo, alguma coisa solta ou alguma coisa presa.
Isso foi uma desgraça para a Tia Vânia, é claro. Lá estava
ela, toda prosa, feliz e vaidosa porque TINHA ACABADO DE SAIR DE UM HOSPITAL,
esteve internada com desidratação, depressão, saco-cheio-do-Ernani, ou
sei-lá-o-que-mais. Tava doida para contar para todo mundo o seu sofrimento e o
seu calvário e o que é que fazem com ela?
Simplesmente aparece todo mundo doente.
Isso é sacanagem!
A Letícia aparece por aqui com diarréia. Quase que ela nem
podia vir porque a situação realmente “estava uma merda”, Mas o prefeito do Rio
fez um dramático apelo para que ela saísse da cidade imediatamente, porque o
sistema de esgoto não estava dando vazão. O emissário submarino tinha entupido.
Na lagoa Rodrigo de Freitas os peixes estavam todos morrendo, eticeteraetal...
Lá veio ela para Juiz de Fora, mas passou no caminho em
Petrópolis e todo mundo viu o que aconteceu, né? Decretado estado de calamidade
pública, tem pra mais de quarenta mortos, o trânsito na BR-40 foi interrompido.
Até a economia da Argentina se ferrou. Bem que os argentinos estão botando a
culpa no Brasil. Eles sabem do que estão falando. Mesmo porque nos dias atuais
todos os argentinos estão mesmo na merda. Estão na fossa. E a culpa é de quem?
Adivinha.
Bem que a Roberta tentou compensar. Se de um lado a Letícia
está de piriri, a Roberta apareceu por aqui com as tripas presas. Acho que elas
deviam conversar um pouco, trocar umas idéias, quem sabe não consegue uma
ajudar a outra?
Não bastassem esses incidentes de
movimentos peristálticos, retrofuliculares e de esfíncter contraído ou relaxado
para empanar o brilho da estadia da Tia Vânia no hospital, ainda aparece a
Raquel com uma febrezinha de nada, que parecia não ter nenhuma causa aparente,
daquela que não mata nem sai de cima. Tá parecendo que foi de propósito, só
para perturbar o natal da Tia Vânia.
Mas não são só as sobrinhas, não. As irmãs também apareceram
cada uma com uma doença mais estapafúrdia. Tia Arizla, por exemplo, saiu se
mostrando pro Rafael com uma tal de “artrite reumatóide”. Ela abre a mão e os
dedos parece que ficam indecisos sobre qual direção eles devem seguir. Um vai
pra cima, outro pra baixo, um terceiro vai pra esquerda e outro pra direita.
Tem até uns que vão um pouquinho em uma direção e aí mudam de idéia, fazem uma
curva pro lado e depois um retorno na contramão (sem trocadilho). O Rafael
disse que a Mônica tem muita chance de seguir o mesmo caminho por causa da
hereditariedade e, depois que o Tio Adolpho mostrou que ele também tem os dedos
tortos, recomendou que ela arrumasse uns canudos para enfiar os dedos na hora
de dormir. Entorta de dia e desentorta de noite. É o único jeito.
A Tia Cris, solidária com a sua filha
Letícia, não teve diarréia, é verdade, mas virou a maior peidona da paróquia.
Foi dormir com a Raquel e com a Roberta e as duas ficaram apavoradas com o
bombardeio do Afeganistão. Até a Brigite acabou fugindo e se escondendo numa
caverna de Tora Bora, junto com a Osama Bin Laden. Foi mexer com fogo, saiu
chamuscada. Se escondeu em baixo da cama da Raquel e quase morreu esmagada quando
a cama veio abaixo igualzinho ao World Trade Center! Logo que ela foi salva
pelo Betinho dos escombros, sentiu-se um cheiro terrível se espalhando pelo
ambiente. Diz a Mônica que é uma glândula que a cadela tem e que libera esse
cheiro quando está com muito medo, mas muitos acreditam que seja a glândula da
Tia Cris mesmo. Infelizmente, não foi possível realizar testes para apurar a
verdade.
Mas, em matéria de doença, ninguém conseguiu chegar nem
perto da Tia Rosa e a sua bolota! Desta vez ela humilhou mesmo, que
criatividade...
A Tia Rosa já saltou do carro e veio se arrastando direto
para a cama da Cristina. O que foi? O que aconteceu? É a bolota, gente! Tia
Rosa chegou aqui com uma bolota na vagina, uma inflamação muito dolorida que
nem a deixa andar direito ou ficar em pé. E quem já conhece foi logo avisando:
Toma cuidado, porque se a bolota estourar ninguém agüenta o cheiro.
Lembram daquela vez em que o Tio Rico parou o carro no
Alemão e a Bianca vomitou dentro do carro? O Tio Rico saiu correndo por uma
porta enquanto a Tia Nicinha desembestava pela porta oposta e sobrou para a Tia
Cris limpar o vômito? Pois é. Se estourar a bolota da Tia Rosa vai sair cada um
por uma porta e acabou o natal. Juiz de Fora fica deserta.
O Tio Zico foi logo dizendo que na piscina dele a Tia Rosa
não entrava nem a pau.
Aliás, por falar em pau, aconteceu um fato muito
interessante. A Tia Rosa estava deitada no sofá da sala e foi logo avisando que
estava sem calcinha por causa da bolota. A Tia Nicinha passou por ali, viu a
Tia Rosa toda arreganhada e levou um susto.
Disse a Tia Nicinha que aquela enorme protuberância parece
até um pênis. A Tia Rosa virou hermafrodita e não sabia. Por isso é que ela
sempre disse que precisava arranjar uma esposa. A gente pensava que era para
lavar roupa e cozinhar, mas não. A Tia Rosa devia é estar com outras idéias na
cabeça (sem trocadilho). Aliás, a Tia Nicinha disse que deve ter muito homem
por aí que não é páreo para a Tia Rosa. Acho até que ela andou imaginando se
não casou com o irmão errado...
No meu tempo de estudante, contavam uma piada de um cara
chamado “Vaúco”, porque tinha esse apelido tatuado no “instrumento”. Diziam que
isso era quando estava em repouso, porque quando armava a barraca, a pele
desenrugava e aparecia a mensagem “Viva o glorioso povo de Pernambuco”.
A Tia Rosa poderia, se quisesse,
escrever “Viva o glorioso corpo docente do Colégio Prado Júnior”. Na moleza.
Aliás, na moleza não. Na moleza vai ficar só “Vunior”.
Acho que a grande vítima deste natal foi a Tia Cris, que já
foi “Santa criatura”, virou “genta” depois que começou a menopausa e agora
demonstrou aceitar muito bem as gozações. Afinal, todo mundo pegou no pé dela.
Desde a Raquel com as acusações de flatulência até o Daniel, na hora da ceia,
elogiando o arroz e dizendo que a Tia Cris nunca na vida vai conseguir fazer um
arroz daqueles. Disse o Daniel que a Tia Cris deixa o seu arroz ficar preto em
volta e uma “papa” no meio. Quando vai servir, ela pergunta “Vai querer quantos
torrões?”. Ou então corta o arroz com a faca para colocar uma fatia de arroz no
seu prato. Esse Daniel é um poço de sarcasmo! Em compensação, a Tia Cris disse
que vai ser mole para qualquer garota pegar o Daniel para casar. É só dizer que
sabe fazer arroz que ele aceita na hora.
Freud deve explicar.
Meu Deus, vocês viram só o vestido da Mônica e da Paulinha?
Pela frente, não tem nada de mais, mas olhando por trás não
tinha vestido. Da Mônica já se esperava mesmo, mas da Paulinha? Quem diria,
hem? E a Luiza, não parecia que ela estava vestida de “garrafinha de leite de
coco Serigy”?
Foi emocionante quando a Cristina ficou presa no lavabo
porque a fechadura emperrou e o Tio Zico e Tio Adolpho ficaram tentando abrir a
porta. Não conseguiram e o Tio Zico acabou enfiando o pé na porta e foi mais uma
destruição. O pior não foi nem o arrombamento com o pé e sim a destruição que
eles fizeram na porta com a chave de fenda. Aliás, parecia mais a tal bomba
termobárica que os americanos estão usando para acabar com as cavernas onde o
Bin Laden se esconde.
Eu digo e afirmo: nunca mais vou comer a ceia em frente ao
Tiago.
Primeiro ele foi se servir e simplesmente acabou com a
salada. Botou tanta salada no prato que o Rafael chegou a avisar: “Olha aí,
gente. Quem quiser se servir de salada pode vir pegar no prato do Tiago”.
Depois, foi o espetáculo da Cascata do Hotel Meridian. Ele sentou com o prato
no colo, pegava a comida com o garfo e, enquanto o garfo ia viajando do prato
até à boca, ia despejando comida pelo caminho. E como ele estava olhando para
baixo, mesmo depois de colocar a comida na boca, metade dela caía de volta ao
prato enquanto o garfo saía da boca e descia de novo até ao prato. Foi lindo de
se ver!
Aliás, a comida estava ótima. Bacalhau, pernil, salada, tava
tudo ótimo (principalmente o arroz, né Daniel?). Até os doces ficaram muito
bons, ao contrário do que aconteceu no ano passado. Acho que este ano as
cozinheiras erraram a mão ou fizeram alguma coisa trocada sem querer, porque eu
não acho que elas têm toda essa competência, não.
Além do Tiago, quem estava sentado à minha frente era a
família da Tia Cris. A Letícia, que estava ao meu lado, ficou criticando a mãe
e os irmãos porque estavam comendo a comida com os talheres de sobremesa.
“Vocês não sabem a diferença entre talher principal e talher de sobremesa,
família de favelados?”. Foi quando a Luciana se queimou e declarou que a
Letícia é muito boa para criticar os defeitos dos outros, mas não vê o que ela
própria faz de errado. Todo mundo parou de comer por alguns minutos para a
Luciana demonstrar como é que a Letícia faz para tirar o catarro do nariz.
Parece que ela abre a porta do carro, se inclina para fora, tampa uma narina e
assoa. Como o catarro fica pendurado do nariz, ela pega com apenas um dedo e
sacode com maestria a mão para arremessar com muita perícia a gosma para longe.
Muito instrutivo. Aí nós voltamos todos a comer a ceia.
Vocês
viram a pouca-vergonha dos ataques da Tia Cris e da Luciana ao Betinho? Bom,
isso não é novidade e nem devia constar deste jornalzinho. A novidade é que
desta vez o Betinho também andou botando as manguinhas de fora e andou atacando
sexualmente a Raquel.
Acho que o Tio Zico já está ficando meio esclerosado. Quando
deu as pistas para o seu amigo oculto, teve um ano que disse que a Tia Cris
estava com “tudo em cima” e agora disse que a Arizla é “jovem”. Bom, só se a
Tia Cris tem a barriga em cima das pernas, os peitos em cima da barriga, etc. E
a Tia Arizla só pode ser jovem de espírito. (Cruzes, lá vou eu apanhar de novo
este ano).
Em compensação, o Tio Adolpho chamou a Tia Nicinha de
“forte” e ela se ofendeu. Quando me chama de “forte” você quer dizer “gorda”?
Aliás, os elogios aos amigos ocultos este ano estiveram mais
para ofensas que para elogios. Por exemplo, a Tia Cris disse da Luíza e a Tia
Arizla da Bianca que “o meu amigo oculto mudou muito e agora é uma pessoa
simpática, agradável, amistosa”. O que elas disseram mesmo é que as duas sempre
foram duas pestes e agora não são mais. Ainda bem.
Vocês viram só o engarrafamento que
aconteceu na porta do Parque Imperial? Dizem que foi uma festa na casa de um
vizinho ou então foi por causa da bolota da Tia Rosa. Engarrafamento de
milhares de automóveis e quilômetros de extensão. Juiz de Fora está virando
metrópole e qualquer dia bate o record de São Paulo.
E a chuva que interditou as estradas e impedia o pessoal de
ir embora?
O Tio Zico já estava falando em comprar um jornal para ver
as ofertas de apartamentos para aluguel. Felizmente, ele acionou o genro e a
Polícia Rodoviária Federal conseguiu abrir algumas estradas especialmente para
que todos pudessem ir embora. Afinal, o estoque de vassouras da Tia Nicinha já
tinha acabado.
Para encerrar, vamos repetir a mensagem
que este jornalzinho divulgou no natal de 1994 e que a Tia Arizla gentilmente
guardou como lembrança. Foi ótimo que ela tivesse guardado, porque o exemplar
já não existia mais nos nossos arquivos:
O PAI E A MÃE SÃO
LEMBRADOS NESTE NATAL
Como não poderia deixar de ser, este Natal é ocasião
propícia para que todos nós nos lembremos com saudade e muito carinho daqueles
que são os responsáveis pela nossa existência e por sermos aquilo que somos.
Com sua orientação, cuidados e amor deram-nos a oportunidade
para que viéssemos a nos tornar uma família onde o que existe de melhor em
matéria de sentimento serve de cimento para unir seus membros em torno da
lembrança e do exemplo que nos deixaram. Temos todos a certeza de que eles nos
acompanham e observam, de onde quer que estejam e certamente devem aprovar o
ambiente que existe entre os filhos, genros, noras e netos que continuam com
muito garbo a saga da família Fraga.
Sempre de olhos atentos para as qualidades de seus
descendentes, não enxergam qualquer defeito nos seus entes queridos e a
felicidade dos seus é certamente motivo para imenso gáudio e exacerbado orgulho
dos patriarcas da clã. Regozijam-se com nossos sucessos e amargam nossos
percalços. Recebam nesta ocasião festiva a nossa saudade, o nosso carinho e o
nosso amor, sabendo que apesar de sentirmos imensamente a sua falta, sabemos
que estão bem, juntos e felizes, com a consciência do dever cumprido à exaustão
e a felicidade de colherem no além os frutos da obra que construíram no plano
físico.
Nós os amamos muito e um dia vamos nos reencontrar. Até esta
feliz ocasião, esperamos ser merecedores do privilégio de termos convivido
nesta existência com vocês.
P.S. - Os editores estendem esta homenagem aos saudosos
entes queridos dos que ingressaram na família Fraga após o nascimento.
(Família Fraga – Natal de 1994)
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