domingo, 6 de maio de 2012

MORANGOS COM CREME DE CHANTILLY OU MINHOCAS?



MORANGOS COM CREME DE CHANTILLY OU MINHOCAS?

Alguns amigos do Google+ devem ter estranhado que eu tenha passado a enviar não mais em *Public* , mas apenas para um círculo os posts sobre os argumentos favoráveis ou contrários à existência de Deus. Esta mensagem é para esclarecer o motivo desse aparente paradoxo.
Não estranhem o título da mensagem. "MORANGOS COM CREME DE CHANTILLY OU MINHOCAS?" expressa exatamente a razão desse procedimento e quem tiver a paciência e o interesse de ler até o fim, perceberá essa ligação.
Quando eu tinha 14 para 15 anos, terminei o curso ginasial e tive que escolher entre o curso Científico e o curso Clássico. No primeiro as Ciências Exatas e Biológicas eram mais exigidas, enquanto no Curso Clássico eram as Ciências Humanas.
Escolhi o segundo e no Curso Clássico eu estudei Português, Inglês, Francês, Espanhol, Latim e Grego pelos três anos do curso, além de Matemática, Física, Química e FILOSOFIA. Isso fez a diferença em minha vida.
Não adianta me perguntar o que é Filosofia, porque não existe nenhuma definição satisfatória. Para entender o que é, eu precisaria estudar primeiro a Filosofia e depois a Metafilosofia. Só então eu teria condições de entender o que é, mas não conseguiria explicar para outra pessoa.
Dentre as diversas áreas da Filosofia, havia uma que sempre me apaixonava e esta área é a Lógica. Além de interessante, é extremamente útil em nossas vidas, seja para um médico, engenheiro ou advogado. Não é essencial em qualquer área saber analisar um argumento e verificar se ele é falso ou verdadeiro?
Creio que foi por esse motivo que eu sempre fui muito crítico e difícil de aceitar qualquer argumento sem concordar que atende aos ditames da lógica. Quando cursei por um ano a Escola Superior de Guerra no Rio, meus colegas chegaram a me chamar de "terrorista dialético", tamanha era a frequência com que contestava e derrubava argumentos.
Muita gente costuma, quando vai a algum consultório e tem que esperar a vez, ficar olhando para a televisão ligada, mesmo que esteja passando um desenho infantil ou um programa de culinária.
Ou então pega e começa a ler um exemplar antigo da revista "CARAS". Eu, pelo contrário, aproveito essas ocasiões para simplesmente pensar. Nas salas de espera dos consultórios pensam até que estou dormindo, porque me recosto e fecho os olhos enquanto penso.
No raciocínio lógico, um silogismo é composto por duas premissas e uma conclusão. No tipo mais frequente de silogismo, a primeira premissa atribui uma qualidade a uma classe, a segunda premissa inclui um indivíduo ou um grupo nesta classe e a conclusão atribui a qualidade da classe ao indivíduo ou grupo.
Parece complicado?
Um exemplo clássico vai mostrar que é a coisa mais simples do mundo.
Primeira premissa: "Todos os homens morrem".
Segunda premissa: "Os gregos são homens"
Conclusão: " Os gregos morrem".
Fácil, não é?
Já em um sofisma, uma das premissas é falsa ou o indivíduo ou grupo não está contido na classe. Exemplo:
Primeira premissa: "Fumar causa câncer no pulmão"
Segunda premissa: "João fuma"
Conclusão: "João está com câncer no pulmão"
Onde está o êrro?
A conclusão é falsa porque a primeira premissa não afirma que TODOS os que fumam estão com câncer no pulmão.
João pode não ter câncer no pulmão... ainda. Ou pode ser que nunca venha a ter.
Mas o que é que isso tem a ver com o fato de eu parar de mandar posts em Public?
Calma! Eu chego lá.
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Recebo muitos posts dos amigos encaminhando textos, imagens, vídeos, etc. As que eu considero muito boas e que ainda não tenha enviado, eu repasso. Faço isso com o objetivo único de que meus amigos tenham o mesmo prazer que eu tive ao recebê-las, é claro.
Mas quando recebo os diversos posts, eu não leio e imediatamente ignoro ou repasso. Muitas delas defendem um ponto de vista, apresentam uma tese, argumentos ou opiniões. Para estas eu reservo mais tempo. Paro a leitura e fico pensando sobre o que foi exposto na mensagem.
Será que o ponto de vista é correto? Será a tese válida? São os argumentos silogismos perfeitos ou contêm algum sofisma? A opinião adotada é a mais provável de corresponder à realidade frente aos fatos conhecidos? Resumindo, eu penso e acho que essa atividade é tão ou muito mais prazeirosa que simplesmente ler e curtir a beleza da mensagem.
Nós temos 86 bilhões de neurônios em nosso cérebro e cada um deles possui em sua membrana exterior vários ramos extensos chamados dendrites (que recebem sinais elétricos de outros neurônios) e outra estrutura chamada axônio(que envia os sinais elétricos). O espaço entre essas “antenas” dos neurônios e as “antenas” do neurônio próximo é que é chamada de “fenda sináptica”. Os sinais elétricos são transportados através das sinapses por sustâncias químicas chamadas “neurotrasmissores”.
Pombas! Isso é tão bacana, tão lindo e espetacular que não podemos desperdiçar os bilhões de anos em que a natureza foi aperfeiçoando a primeira forma de vida a surgir na Terra para nos dotar de tamanha capacidade (ou o imenso amor de Deus ao nos presentear com essa estrutura tão maravilhosa).
Está mais que comprovado que, assim como o corpo se beneficia da atividade muscular e aeróbica para se manter em forma e saudável, o cérebro também precisa de atividade mental para se manter em forma e saudável. Fazer palavras cruzadas, cálculos mentais ou aprender uma nova língua ou qualquer nova atividade força o cérebro a criar novas sinapses e fortalecer as já existentes.
Então, gente, vamos pensar!
Anos atrás eu recebi de um amigo a mensagem “O barbeiro e o freguês”, na qual o barbeiro defendia a inexistência de Deus por não acabar com as misérias e o freguês ficou quieto, mas voltou depois acompanhado de um mendigo barbudo e cabeludo.
Disse ao barbeiro que barbeiros não existem porque se existissem não haveriam barbudos e cabeludos como aquele mendigo. Ante a declaração do barbeiro de que o mendigo não o procurara, afirmou o freguês que Deus também não ajudava muita gente porque essas pessoas não o procuravam.
Esse é o tipo de mensagem a que me referi como sendo as que me fazem parar a leitura e meditar sobre o assunto. Pensei, pesei e analisei os argumentos apresentados por ambas as partes, não apenas achando bonita a mensagem e passando adiante, mas examinando tudo sob o aspecto lógico.
Respondi ao amigo que me enviara a mensagem, divulguei meus pensamentos e minhas conclusões a todos os demais, incluí neste blog e postei depois de ingressar no G+, pois eu não quero apenas e tão somente repassar os textos e apresentações que eu acho bonitos ou engraçados. Vocês podem fazer uma idéia de alguns aspectos de minha personalidade apenas constatando as mensagens que eu repasso. Se eu repasso uma mensagem, é porque eu vi naquela mansagem algo que me agradou.
Só que eu quero que os meus amigos me conheçam. Quero que saibam como eu sou, como eu penso e como eu sinto. Quero que apreciem o texto que eu pensei e escrevi e não o poema de Fernando Pessoa que eu repassei. Se vocês gostarem do poema, serão amigos de Fernando Pessoa e não meus amigos. Por isso eu quis e quero abrir o meu interior e ser avaliado por aqueles que eu quero que sejam meus amigos.
É claro que vocês verão coisas e aspectos que lhes agradarão muito e me admirarão por isso. Mas verão também outros aspectos que não lhes agradarão e podem ficar decepcionados ou desiludidos comigo. Mas se eu sou assim, quero que saibam que tipo de pessoa eu sou, para que me aceitem ou não e para que sejam ou não meus amigos e não do Fernando Pessoa.
O meu objetivo com a mensagem era mostrar os meus pensamentos e minhas opiniões. Eu deixei bem claro que não pretendo atacar, debochar ou menosprezar a fé de ninguém. Isso não tem nada a ver com a fé e sim com argumentos e raciocínio lógico. Não busco acólitos.
Se você é cristão, ótimo para você e espero que sua fé lhe ajude muito em sua vida. Se é muçulmano, ótimo para você. Se é espírita, ótimo para você. Se é ateu, ótimo para você. Nenhuma religião ou falta dela irá impedi-los de trocar idéias sobre filosofia.
Um dos maiores filósofos e por quem eu tenho respeito é São Tomaz de Aquino. Sócrates não era cristão, nem Platão, nem Aristóteles, nem Schopenhauer, nem tantos outros. Por isso não vão ler e estudar suas obras?
Eu me correspondo com muita gente e enviei a mensagem para todos. Esperava que alguns concordassem comigo, alguns aceitassem alguns argumentos mas rejeitassem outros, alguns discordassem totalmente e eu adoraria receber principalmente destes últimos os motivos e argumentos que apresentassem para justificar sua discordância.
Posteriormente, recebi mais uma mensagem que me fez parar para meditar sobre o assunto. A mensagem encaminhava um vídeo no qual o professor afirmava que, se Deus tinha criado tudo, teria criado também não só o bem, mas também o mal. Logo, ou Deus era mau ou não existia. Foi quando um aluno perguntou ao professor se o frio existia. O professor responde que é claro que existe, mas o garoto nega a existência do frio, ele diz que o que existe é o calor e o frio é justamente a ausência de calor. Da mesma forma, a escuridão não existe, porque a escuridão é simplesmente a ausência de luz. O mesmo se daria com o bem e o mal. O que existe é o bem e o mal nada mais é do que a ausência do bem, que resume o amor de Deus. O vídeo ainda afirma que o nome do aluno era Albert Einsten.
Foi a mensagem em que o remetente colocou o título de “Deus existe? Einsten”. Certamente esse título foi colocado fazendo a ligação com minhas mensagens anteriores e acrescentando a opinião de Einsten. Essa mensagem também continha opiniões e argumentos e eu pensei e analisei essas opiniões e argumentos, tirando eu mesmo minhas próprias opiniões e argumentos. E tentei mais uma vez encaminhar a todos os amigos apresentando os meus pensamentos, a minha análise e minhas conclusões. Eu queria que cada um pusesse seus neurônios para trabalhar e cada um tirasse suas próprias conclusões e mostrasse seus próprios argumentos.
Como eu tenho uma coleção de argumentos filosóficos favoráveis e contrários à existência de Deus, iniciei o envio de cada um desses argumentos juntamente com os contra-argumentos da posição oposta. Interesse puramente filosófico. Mas eu percebi que estava tocando em um nervo muito sensível para muitos colegas. Acho que isso se deve a confundir fé com crença. A fé independe de argumentos ou provas e pode até se sentir ofendida quando algum fato ou algum argumento contrário à sua fé é apresentado. Sobre fé eu não argumento e desejo que cada um seja feliz com a fé que possui. Não é minha vontade criar constrangimentos de qualquer espécie, principalmente para pessoas que eu considero amigas e sempre me trataram com a maior educação e respeito.
Foi então que eu me lembrei de um texto escrito há muitos anos por Dale Carnegie. O nome do livro é “Como fazer amigos e influenciar pessoas”.
Não me lembro exatamente como era esta parte a que estou me referindo, mas lembro que ele gostava de pescar. Pessoalmente, ele adorava a sobremesa composta por morangos com creme de chantilly, mas por alguma razão que ele não conseguia entender, os peixes gostam mesmo é de minhocas.Por isso, quando ia pescar, seu primeiro cuidado era não colocar morangos com creme de chantilly como isca no anzol. Ele colocava no anzol uma minhoca e oferecia aos peixes perguntando:”Vocês não gostariam de saborear esta suculenta minhoca?”
É claro que eu não quero pescar os destinatários de meus posts, mas quero enviar posts que sejam agradáveis para eles e não os que são agradáveis para mim. Eu gosto de astrofísica, teoria da relatividade, mecânica quântica, filosofia, lógica, gosto de pensar e analisar argumentos, mas os posts que eu recebo são em sua maioria humorísticos, românticos, religiosos. Então eu não devo enviar mensagens que não são de seu agrado, assim como não devo oferecer aos peixes morangos com creme de chantilly. Se os peixes demonstram interesse por minhocas, é isso que eu devo lhes oferecer, certo? Se uma parte dos meus amigos gosta mesmo é de posts humorísticos e assuntos sérios não religiosos, é isso que eu devo continuar enviando.Certo?
Foi por isso que eu parei a enviar em Public os posts questionando a existência da divindade e continuar enviando sobre assuntos sérios, desde que diferentes daqueles que possam criar constrangimentos com pessoas que sempre procuraram ser agradáveis comigo. Não recebi nenhuma queixa, reclamação ou mesmo pedido. Foi uma atitude baseada tão somente no que eu achei que deveria fazer.
Consegui explicar bem e me fazer entender?

Um grande abraço,

Alzir Fraga

5 comentários:

  1. Olá, Conseguiu sim expressar e entendi. Muito bom texto, apesar de longo. Acho que grafia de 'mussulmano' esta incorreta. Parabéns. Eu estou começando a publicar minha opinião em um blog http://jorgiinacio.blogspot.com.br/ e gostaria da opinião de alguém que escreve tão bem, se quiser acesse e comente.

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    1. Grato pelo aviso e pela apreciação do texto. Quanto ao tamanho, acho que tenho que confessar: sou mesmo prolixo. Vou olhar no link.

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  2. O problema é que como dizia Nietzsche: "a mordida da consciência é indecente." São poucas as pessoas que não se sentem ofendidas ao terem seus axiomas desfeitos. Desde cedo sempre gostei de debater, a argumentação é uma ótima oportunidade para se aprender mais. Não foram raras as vezes que aprendi mais lendo os comentários e debates do que no próprio artigo que os produziram. Mas para se debater deve se manter a mente sempre aberta. Caso contrário nunca se irá aceitar algo além daquilo que já definiu como imutável.

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  3. Sou inclinado a concordar com cada palavra.
    No G+ tenho meus círculos organizados e normalmente posto publico, mas quando é algo que considero mais interessante ou que pode levar a uma conversação interessante faço uma notificação.

    Também tenho um blog (que estou migrando para a nova). Minto... Não um, mas dois. Um deles é sobre filmes e de certa forma é apenas para divulgação de algumas coisas que acho interessantes. No outro tenho opiniões sobre diversos assuntos e alguns podem ser inquietantes. De um modo geral tem opinião, mas não experiências pessoais, mesmo eventualmente aparecendo. Esse eu não divulgo massivamente. Nem mesmo faço muita questão.

    Considero a sua postura bastante racional e respeitosa. E fico feliz em saber da sua maneira de tratar o conteúdo na rede. Também fico incomodado em receber apenas gifs ou posts de diversos assuntos, mas que não acrescentam nada. Mais uma vez afirmo que fico feliz em ver que ainda temos pessoas que você que destoam desse grupo.

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  4. Minhas homenagens aos "Homens de Boa Vontade" que não se negam em compartilhar de suas mais valiosas riquezas. Riquezas estas incorporadas nas almas, que os definem quem realmente são, que os tornam ímpares, como de fato somos, mas que se destacam pela forma de apresentação de suas nobrezas singulares reveladoras de seus caráteres.
    E eu, com esta sede de conhecimento herdada por aquele que se fez a mim um "Mestre" (meu saudoso Pai), o reverencio, como aprendiz que sou, por me proporcionar momentos de reflexão com este texto que do qual estou desenvolvendo o comentário pertinente, que não postei agora pelas constantes interrupções corriqueiras que nos desviam da linha de raciocínio, mas que tão logo aqui postarei.
    Em prévia, é melhor deixar os peixes com as minhocas, pois também me agrada o sabor do morango!!! (rsrs)
    Grande abraço!!!
    Gisele V. Oliveira

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